sábado, 29 de outubro de 2011

                    QUEM CASA QUER CASA?
                      ...OU QUER LAR?
Jorge Gaidarji *
“A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família”.
( Tolstoi )
 Acordei aborrecido. Todos foram para a fazenda. Sentei-me ao lado da piscina. Vejo o madeiramento da varanda quase se encostando à mangueira. O barulho da água e o cri-cri do pássaro no ninho me irritam um pouco. Os carros na garagem ...  não sei onde guardei as chaves. Não importa. Resolvi dispensar os empregados. Está tudo muito cinza. O envidraçado do salão de jogos, fechado. A sala de musculação, ainda aberta desde a última sexta. Engraçado... olho para os lados e vejo que tudo o que todos procuram está tão perto de mim e ao mesmo tempo me parece tão distante.
Há um grande vazio até onde meus olhos vêem e o pensamento alcança. Passaram-se nervosos 40 minutos nessa cadeira. Hoje será eterno.
Tocaram a companhia. Deve ser o jardineiro; acho que não vou atender. Insistente em demasia. Ouço vozes de crianças. São meus filhos. Desistiram da viagem.
Abraços, beijos correria. Não sei o porquê, mas o ar parece diferente. Mais leve. A água da piscina parece mais azul. Chamei minha filha; que tal dar-mos uma olhadela naquele ninho? Será que nasceram novos filhotes? Uma felicidade toma conta de meu peito.
Sinto que sem a minha família nada tem sentido. Lembrei-me que outro dia li no livro do Deppack Chopra, - “As Sete Leis Espirituais Para O Sucesso” - que tudo que precisamos para que sejamos felizes é de graça. Acho que é verdade. Dinheiro, bens... são coisas necessárias, mas compreensão, amor, carinho, afeto, saúde, amizade e paz são coisas que não tem preço. São essas coisas e essas pessoas que nos movem a alcançar objetivos.
Decidi que devo trabalhar menos e curtir mais o hoje, retribuir o carinho, ouvir a reclamação, olhar mais para fundo dos olhos das pessoas, dar bom dia aqueles que não se conhecem, ler um gibi do cascão, jogar fora a página do jornal que trata de violência, dar a partida no carro e ir para lugar algum.
Essa minha experiência de hoje me fez sentir que eu preciso dos outros, eu preciso do mundo e talvez outros e o mundo precisem de mim. Eu preciso estar à disposição para que estejam à minha disposição. A minha saúde e a saúde da minha família está no lar, na união.
Tudo são os olhos de quem o vê. Agora sinto que tudo tem mais cor e em tudo há mais vida. Este será um grande dia.
“Paz e harmonia: eis a verdadeira riqueza de uma família”.
(Benjamin Franklin)
Jorge Gaidarji. Bacharel em Direito e Educação Física. Especialista em Direito Público. Analista Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Moções Proféticas
Glorificar a Deus com os nossos pensamentos
Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e o reduzimos à obediência à Cristo” (2Cor 10, 4-5).
Muitas vezes falamos de glorificar a Deus com nossas atitudes, dando testemunho de nossa adesão à Cristo através de atos de amor, perdão e misericórdia, e de glorificá-lo com as palavras de nossos lábios, através de palavras de louvor e não de murmuração. Mas temos glorificado a Deus em nossos pensamentos?
Gostaria de atualizar para nós uma profecia em tom de exortação que nos foi dada no ano de 2007: “Vigia os teus pensamentos, mantém-nos dobrados ao meu Senhorio, humildemente submete-os a mim e não permitas que entre neles a divisão, a desconfiança, o julgamento, a intriga, a suspeita. Toda essa divisão não vem de mim. Os meus pensamentos são de paz, tudo aquilo que te roubar a paz, submete-o a mim e Eu agirei nessa situação específica sobre a qual pensastes. Paz, paz dentro de ti e ao teu redor. Não julga, não critica, não te arvores em juiz. Eu sou o Senhor”.
A confirmação nos veio através da Palavra: “Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos” (Fl 4,8-9).
Fica, portanto, a exortação do Senhor para nós, a de vigiar sobre nossos pensamentos, não julgando, não abrigando pensamentos de medo e de derrota, não tendo uma visão ruim das coisas e das pessoas, mas pedindo ao Espírito Santo para vir iluminar nossos pensamentos com o seu amor, com a sua luz, e pedindo a Jesus para lavar nossos pensamentos no seu sangue redentor para que nenhuma sugestão do maligno possa se insinuar dentro de nós. Assim, poderemos glorificar a Deus com nossos pensamentos.
Fica também como moção para nós fazermos o jejum do pensamento que não glorifica a Deus, a abstinência do pensamento mau e do julgamento, a moção de vigiarmos atentamente sobre nossos pensamentos. Não precisamos nos preocupar em julgar aos outros, pois Jesus Cristo, o Justo Juiz, porá tudo às claras. A nossa preocupação deve ser sempre a de agradar a Deus e de fazer sua vontade, a de não fazermos as coisas que criticamos no comportamento dos outros. Se estivermos ocupados lutando por nossa santidade, não teremos tempo nem disposição para nos ocupar com pensamentos ruins.
“Por isso, não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece” (1Cor 4, 5).
Ainda outro direcionamento que podemos tirar é o de fazermos de 2Cor 10, 4-5 a nossa oração diária para fortalecer-nos na abstinência do pensamento que não glorifica a Deus. Lembremos: as armas com que lutamos não são carnais, são espirituais, por nisso precisamos do auxílio de Deus. Tudo na nossa vida depende da graça de Deus. Que sua graça ilumine nossos pensamentos!
Maria Beatriz Spier Vargas
Secretária geral do Conselho Nacional da RCCBRASIL

domingo, 23 de outubro de 2011

Família: Missão Apaixonante

O Papa João Paulo II diz, na sua “Carta às Famílias”, que “a família é o centro e o coração da civilização do amor”, que está nas raízes mais profundas do desejo de Deus para o homem na terra. Neste tempo em que a necessidade do matrimônio e da família no mundo tem sido posta em questão, é preciso anunciar o que de fato ela é: uma missão apaixonante!

Criada por Deus, a família existe para Ele, e só n’Ele pode encontrar o seu sentido. Vamos começar a encontrar o seu sentido no livro do Gênesis, mais exatamente no trecho que fala da origem do homem e da mulher sobre a terra.

Criados à imagem e semelhança do Deus Trinitário, que vive uma eterna comunhão de amor, o homem e a mulher são desde o início chamados a “crescer e multiplicar-se” por uma comunhão semelhante à divina. Deus chama o ser humano, obra-prima da Sua criação, a uma eterna comunhão de amor com Ele, e este chamado encontra uma significativa expressão na aliança nupcial que se instaura entre o homem e a mulher, cujo vínculo de amor é tantas vezes descrito na revelação como imagem da Aliança que une Deus com seu povo.

Contudo, o egoísmo que se esconde desde o primeiro pecado no amor do homem e da mulher (Gn 3,16), requer a Redenção da família, e a reordenação para sua finalidade última. Só assim a família reencontra a sua razão de ser, pois o amor humano corre constantemente o risco de partir do homem e acabar no homem, quando o seu destino é partir do homem para encontrar a imagem de Deus.

A comunhão entre Deus e o ser humano, ferida pelo pecado, foi restaurada no sacrifício que Jesus Cristo faz de si mesmo por sua Esposa, a Igreja. “Neste sacrifício, descobre-se inteiramente aquele desígnio que Deus imprimiu na humanidade do homem e da mulher, desde a sua criação” (João Paulo II, Familiaris Consortio, n.13). E o Espírito, que Ele nos envia, é que nos capacita, como homens e mulheres unidos pelo sacramento do Matrimônio, a nos amarmos mutuamente, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela.

Assim é que o amor conjugal, iluminado pela Caridade de Cristo, nos capacita a vivermos no interior da família a mesma Caridade com que Cristo se doa sobre a cruz (Ef 5,32). E este amor sobrenatural que atinge o casal deve se estender como graça para os filhos e entre os filhos, como também entre pais e filhos, e, mais ainda, entre os membros de cada família e os de fora.

“Esposos e famílias, recordai-vos por que preço fostes comprados” (João Paulo II, Carta às famílias, n.18). Missão apaixonante é a dos esposos e da família por eles constituída: Viver a mesma Caridade com que Cristo se doa sobre a cruz! Os esposos participam da função redentora de Cristo ao assumirem integralmente, por vocação divina, a finalidade para a qual o matrimônio foi instituído. Eis a beleza e a honra da missão que o Senhor atribui à família!

A família não só usufrui do mistério Pascal de Cristo, mas é chamada a participar dele, o que passa através das manifestações mais simples do amor conjugal, que por causa da sua dimensão terrena parecem inadequadas em comparação com o grande mistério que devem expressar. Mas não podemos nunca esquecer que “o mistério divino da Encarnação do Verbo está em estreita relação com a família humana” (Carta às Famílias, n.2).

O Filho unigênito, Deus de Deus, Luz da Luz, entrou na história dos homens através da família: Pela Sua Encarnação, Ele, o Filho de Deus, nascido da Virgem Maria, que tornou-se semelhante a nós em tudo, menos no pecado, nasceu e cresceu numa família humana, trabalhou com mãos humanas, e passou grande parte da Sua vida no recanto escondido de Nazaré, submisso a Maria, Sua mãe, e a José, o carpinteiro.

Assim é que a vida familiar constituída pelos esposos, pelos filhos, pela profissão, e por todos os demais complexos de realidades humanas é o lugar em que Deus expressa Seu convite à santidade, e se propõe como imagem que a família é chamada a expressar. Tudo isso, que acontece por puro Dom de Deus, requer a resposta humana, a adesão de cada um dos membros da família.

A alegria, gerada nos momentos de amor e compreensão recíproca, é instrumento de participação no gozo Pascal de Cristo, ocasião de agradecimento, louvor, e sobretudo abertura ao mundo, mas também a dor, infalível e indispensável da experiência humana, é instrumento de adesão da família ao mistério da cruz. E não somente as grandes dores, mas mesmo as menores, as mais pequeninas da vida diária, as doenças, o cansaço, o desgaste nas relações mútuas, a experiência das limitações de seus membros, constituem fatos construtivos de uma unidade espiritual dirigida para a Caridade que não tem fim. O que importa, de fato, é que os cônjuges não confiem acima de tudo em si mesmos, mas tenham a lúcida consciência de que Cristo os chamou e sustenta, e de que, à obscuridade da crucifixão, se segue sempre a alegria da Ressurreição.

É primeiramente dentro da realidade diária da família que o casal está no mundo a fim de orientar o mundo para Deus. Em Cristo, a missão de cada membro da família encontra o seu sentido: “Ser para os outros”. A família cristã não é para si, mas para os outros; e não só os outros mais diretos e próximos, mas para todos os homens. A família é assim o espaço em que o amor de Deus não somente é acolhido em si mesmo, mas doado aos outros. Membros de cada família, é necessário que nos doemos uns aos outros, mas é também imprescindível que, juntos, nos doemos à Igreja e ao mundo. Por este caminho é que a família, através do esforço cotidiano para vencer o próprio egoísmo e abraçar a Caridade de Cristo, de fato se realiza.

Em cada época histórica e em cada ambiente cultural e social, houve cônjuges que experimentaram seu matrimônio como uma missão, como um serviço a Deus, e por isso se tornaram sinal da unidade e fidelidade de Cristo à Igreja, através da sua própria unidade e fidelidade mútua, unidade esta que é uma conquista diária, e fidelidade esta que deve atingir inclusive o plano espiritual, pela solidariedade em carregar até o fim “o peso uns dos outros” (Gl 6,2). Ambas, unidade e fidelidade, manifestam a indissolubilidade do compromisso matrimonial, não entendida pelos homens do Antigo Testamento, por causa da dureza dos seus corações, mas proclamada claramente por Cristo aos fariseus (Mt 19,8).

Muitos esposos se tornaram sinal do amor de Cristo pelo seu serviço à vida, manifestado concretamente pela procriação, pela adoção, pela educação, pela hospitalidade, pela maternidade e paternidade espiritual, pela fraternidade universal e pelo serviço à Igreja e ao mundo. “Neste sentido, a família é o espaço em que o amor de Deus, encarnado e, por assim dizer, comprovado no amor entre o homem e a mulher, é não somente acolhido em si mesmo, mas doado aos outros, através do testemunho de vida, da entrega à evangelização e ao compromisso apostólico”.

Ana Carla Bessa
Consagrada na Comunidade de Aliança Shalom